Entre as passas de um cigarro

Saturday, May 20, 2006

Pedaço de tempo


















Dentro de mim sou como o báu
Há séculos no sótão da casa da aldeia
Se me abro tanto cheiro a mofo-velho-papel-desfeito-pó
Como a relva-cortada-agora-na-última-foto-de-infância.

Afonso Albuquerque
(alter-ego)


Imagem: Baú do poeta Fernando Pessoa

Saturday, May 13, 2006

Mais uns cigarros...



'Woman smoking a Cigarette'
de Paul Winstanley(2003)
Óleo sobre tela










Já passou um ano e eu continuo a fumar. Aliás tudo indica que eu continue a fumar.
Por isso lá me vou entretendo a escrever aqui entre uma e outra passa.
Obrigada por serem fumadores passivos aqui…
Um dia destes arranjo um purificador de ar, fica a promessa.


Thursday, May 11, 2006

tim tim tim tim tim tim tim tim...


Foto: "Arranha-me a alma" de Paulo César


Dentro de mim há tanta gente. Eu sou tantas coisas. Por vezes torna-se impossível coordenar tantos humores tantas palavras a querem sai-me da boca inexplicavelmente ao mesmo tempo.
Serei João ou Maria filha de João irmão de Pedro sobrinho de Francisco? Ou serei eu o mesmo Francisco que tenho “a síndrome de Ísis”?
Ou ainda não me encontrei e não serei nenhum deles? Ou serei todos!? E todos eles serão só um? E senão sou? Quem sou eu? Ou qual sou? Que pergunta seria mais correcta?




Ninguém responde…Está alguém ai?

Thursday, May 04, 2006

Desígnios de Íris

Peguei no carro… Não era dia de trabalho, mas o telefonema de madrugada ditava que fosse.
Antes de pegar no carro mal me lembro do que fiz tal era o cansaço de muitas noites mal dormidas coladas ao ecrã à espera de alguma inspiração. Isto de escrever tem muito que se lhe diga…
Meia hora e lá estava eu em frente ao portão da escola.
Problema complicadíssimo… os professores do departamento de uma colega minha precisavam de apresentar actas e afins (que eu disso não percebo nada), e não havia nenhum que soubesse mexer no bicho de 7 cabeças.
Eu teria resolvido facilmente o problema colocando ali algum aluno a explicar ou então tratava de saber quem raio era o tal antipático professor de informática e arranjar ponta por onde lhe pegar.
Mas não, Íris, preferiu acordar-me de madrugada no meu dia de folga para eu ir ter com ela e resolver-lhes o problema.
Grande lata! Principalmente depois de estar sem dizer nada havia quase um ano!
Bem, mas como a minha consciência pesava um bocadinho lá me decidi a vir. É que eu a ultima vez que estivemos juntos praticamente disse ao marido que ela podia tudo menos ama-lo. Eu acho que cheguei a dizer mais ou menos assim sem as palavras todas…
Pensando melhor não foi isso que me ergueu da cama mas sim alguma réstia de ilusão… Mas não, esse era o pensamento a afastar a todo o custo.
Lá saí do carro reticente…
No intervalo entre o carro e a porta da escola estive quatro vezes para voltar para trás. Uma inquietação miudinha abanava-me a espinha. Pensar em olhar outra vez para aquela mulher que me fazia parar o cérebro não me parecia muito boa ideia. Principalmente a aquela hora da manhã e tendo eu de explicar informática a uma catrefada de professores… Bem, achava eu que não por mais que eu quisesse ter outra tipo de interpretação daquele telefonema a aquela hora da manhã era impossível… estava quase sem dúvidas que a informática era a única razão que Íris tinha para me contactar de novo.
Porque me levantei eu? – a interrogação não parava de me martelar na cabeça…
 

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