Entre as passas de um cigarro

Sunday, July 31, 2005

Elegia ao Companheiro Morto

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Costa da morte, Galiza

Meu companheiro morreu às cinco da manhã
Foi de noite ao fim da noite às cinco em ponto da manhã
Ah antes fosse noite noite apenas noite
sem a promessa da manhã

Ah antes fosse noite noite noite apenas noite
e não houvesse em tudo a promessa da manhã

Deitado para sempre às cinco da manhã

Agora que sabia olhar os homens com força
e ver nas sombras que até aí não via a promessa risonha da manhã

Mas quem se vai interessar amigos quem
por quem só tem o sonho da manhã?

E uma vez de noite ao fim da noite mesmo ao cabo da noite
meu companheiro ficou deitado para sempre
e com a boca cerrada para sempre
e com os olhos fechados para sempre
e com as mãos cruzadas para sempre
imóvel e calado para sempre

E era quase manhã E era quase amanhã

Mário Dionísio

Tuesday, July 26, 2005

Amar a morte

Amar de peito aberto a morte.
Não de esguelha, de frente.

Amar a morte,
digamos,
despudoradamente.
Amá-la como se ama
uma bela mulhere inteligente.
Amá-la
diariamente
sabendo que por mais
que a amemos
ela se deitará
com uns e outros
indiferente.

Affonso Romano de Sant'Anna

Wednesday, July 20, 2005

Desejo postumo

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Se eu morrer queimem-me
juntamente com cada folha
de papel que escrevi!

Quando morrer
quero morrer inteiro!

Assiram L.

Friday, July 15, 2005

sendo, não sendo

As horas passam lentas
no correr dos dias...
Espero ainda
junto ao lago...
ao uivos dos lobos
(como naquela noite imensa)
Morri lá!
Agora já não sou eu.

É uma sorte ser-se muita coisa!

Assiram L.






By Angel Trice

Monday, July 11, 2005

Paragem*

Com os meus bois,
Os meus bois que mugem e comem o chão,
Os meus bois parados,
De olhos parados,
Chorando,
Olhando...
O boi da minha solidão,
O boi da minha tristeza,
O boi do meu cansaço,
O boi da minha humilhação.
E esta calma, esta canga, esta obediência.

Dante Milano

*Publicado no livro Poesias (1948).
Poema integrante da série Distâncias.

Sunday, July 10, 2005

P #1

Sou um turbilhão
de sentires!
Cigarro após cigarro.
Rápidos refulgentes...
Olho-te entre rápidos desvios!
Se me fixo perco-me...
Sei-o!
O sangue quer-me sair das veias
aos saltos!
Controlo-me!
Creio-me ferro!

Saiu.
Está quente aqui.
Até o ferro derrete....
Fujo!
Não sou
ferro!

Liliana C. (alter-ego)

Saturday, July 09, 2005

morrendo n(atu"r"almente)

Por fim, decido deixar-me morrer, lentamente como o tronco que é
consumido pelo fogo, como lírio que
lentamente se decompões no jaro...
para sentir toda a
tua ausência...
Plenamente!
E deixar de
sentir(-te).
AlmaAzul


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Nature morte avec lierre - de Micheline Tangu
 

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